Metade

não me agradam antigas versões minhas estranhas escolhas, outros pensamentos a vida se aproxima da metade de um século e me pego em fase revisional – entristeço-me pelos erros, pelas histórias sedentas de paz, pelas saudades dos que foram, pelos que nunca deveriam ter vindo, pelos lapsos de reflexão, pelas prioridades invertidas, pelas certezas desleixadasContinuar lendo “Metade”

Rota

quis encontrar uma estrela em teus olhos dançar, inda menina, nos teus palcos ser-te atriz principal de meus melhores papeis enquanto rompia as correntes de um vazio sem nome e buscava alguma crença em qualquer merecimento. esqueci-me menina nas minhas fantasias inseguras nos desejos que busquei atrás das portas ou entre as frestas nas janelasContinuar lendo “Rota”

Jenga

sempre nos é permitido repensar o pensado rever um argumento escolher outro caminho reparar uma história. como um jogo nada infantil a vida sempre pode ser desfeita e refeita com um novo arranjo de novo e de novo outra vez e mais uma.

Giratório

me perdi entre as vírgulas do texto sem palavras em busca do sentido metafórico das estrofes entre parênteses querendo algum indício de sua caligrafia perfeita para guardar com os cartões postais dos lugares onde não estivemos.

Escombros

teus olhos felinos a me espreitar o sono tuas mãos vacilantes a acariciar meu dorso teus argumentos exaustivos a rodopiar em minha mente tuas paranoias criativas a martelar meu espaço distante traços fantasmagóricos de uma outra história estranhas lembranças de alguma outra vida a arrancar palavras suaves para calar a cobiça a gritar silêncios cortantesContinuar lendo “Escombros”

Invernal

às seis da manhã passo um café e sento com meus fantasmas botamos as cartas na mesa sobre luto, cicatrizes, memórias. falamos das marcas gravadas na pele dos caminhos, escolhas e histórias e discutimos sobre reparações. choro revelando lembranças que permanecem (embora não permaneçamos os mesmos), incômodos que ficam e tropeços. confesso que os sonhosContinuar lendo “Invernal”

Vertigem

há laços desatados que se acumulam dentro, em nós na garganta, atos perversos que nos poluem com histórias que não queremos viver, intensos afetos que nos ferem como lanças em chama na boca do estômago. há o cansaço, que rechaça o deboche e mantém apartada a raiva e a longa espera diariamente atualizada por novosContinuar lendo “Vertigem”

Trivial

as palavras me tomam quando eu leio e ainda mais quanto mais escrevo transbordam quando estou triste e dançam (em minha mente) quando estou bem. as palavras apenas me faltam nos mais ou menos da vida a poesia, talvez não aceite a mediocridade.